segunda-feira, 25 de julho de 2011

Batizar-se pelos mortos? (Batismo por procuração)

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A doutrina do batismo pelos mortos (conhecido por batismo por procuração) é uma das doutrinas distintivas do Mormonismo e o rompimento com o Cristianismo histórico e Bíblico.  A pergunta de que essa prática tem ou não base bíblica e se foi ou não praticada pela igreja primitiva é o assunto que trataremos neste artigo.

Focalizaremos nossa atenção especificamente para essa prática de batismo para os mortos ensinada pelos mormons. Mas, antes, cabe aqui uma pergunta apropriada: A Bíblia realmente ensina a prática do batismo pelos mortos? Foi ensinada e praticada por Jesus e seus primeiros apóstolos?

Embora o Livro de Mórmon é tido pelos adeptos como contendo ''a plenitude do Evangelho eterno'' (Doutrinas e Convênios 17:5), e embora ensinem ser o batismo pelos mortos um ensino central do evangelho de Jesus Cristo, é esclarecedor sabermos que o Livro de Mórmon não contém nenhuma referência à prática, direta ou indiretamente,  deste ritual. As únicas referências dadas vêm de quatro sessões de Doutrinas e Convênios (124,127,128,138). Este ponto também pode ser verificado conferindo no índice na parte de trás do Livro de Mórmon. O que se verifica, é que o livro não traz nenhuma referência a esta doutrina herética.

Apenas um verso?

O silêncio do Livro de Mórmon quanto ao batismo pelos mortos é um fato importante, por isso, um único verso na Bíblia (I Coríntios 15:29), constitui sua base EXCLUSIVA para os teólogos mórmons. Isto é reconhecido pela Enciclopédia do Mormonismo de 1992.

Em I Coríntios 15:29 está escrito:

''Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressucitam? Por que se batizam eles, então, pelos mortos?''

A primeira coisa que se nota neste versículo é que o batismo pelos mortos não é ensinado de fato, mas apenas mencionado. Dado a natureza escassa de evidência, é especialmente importante seguir princípios sãos de interpretação bíblica, buscando entender este verso.

Dois princípios básicos pertinentes a esta tarefa são: (1) não leia um verso de forma isolada, mas cuidadosamente considere o seu contexto; e (2) use passagens claras e explícitas da Bíblia para interpretar o que está obscuro ou menos claro, não o contrário.

Uma leitura superficial de I Coríntios 15:29 isolado de seu contexto pode sugestionar um aparente apoio para o batismo para os mortos. Porém,  um estudo cuidadoso do verso em seu contexto e na luz de outras passagens bíblicas, deixa claro que isto não é possível.

Seguindo os princípios descritos acima, nós deveríamos fazer várias perguntas, tais como: (1) Há qualquer coisa em I Coríntios (num contexto mais amplo)  que lança mais luz sobre a questão de I Coríntios 15:29? (2) O que o tema e essa linha de argumento tem a ver com o contexto imediato? (3) Como o verso 29 se ajusta nesta linha de argumento? (4) Há alguma outra menção sobre o ensino do batismo, em outras epístolas de Paulo ou em outro lugar do Novo Testamento?

Será que o apóstolo aqui está dando aprovação à doutrina do batismo pelos mortos? Jesus e os outros escritores do Novo Testamento apoiam essa doutrina?

Perguntas como esta nos ajudarão a chegar a uma interpretação precisa do verso 29, e também vão evitar a tentação de ler no texto nossas próprias idéias préconcebidas.

Examinando o contexto mais amplo

Há três outras referências a respeito de batismo em I Coríntios. São elas: 1:14-17; 10:2; 12:13. Em 1:14-17, Paulo menciona o batismo para expressar a preocupação dele sobre contendas e facções nas reuniões entre os cristãos:


“Dou graças a Deus que a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio;para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome.É verdade, batizei também a família de Estéfanas, além destes, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo.”


É bem clara suas palavras quando diz que: “Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho”. Paulo está lembrando aos coríntios que é a mensagem da morte de Cristo por nossos pecados (aceita pela fé genuína) que pode de fato regenerar e pode transformar a pessoa interior, e não o rito externo do batismo. Ele é importante, entretanto, como um sinal externo de fé e obediência. Este fato mostra que os coríntios davam muita importância ao batismo, e que o apóstolo sentia a necessidade de os guiar a um ensinamento equilibrado de seu significado.

Então em I Coríntios 10:2 o apóstolo usa a palavra “batizou” descrevendo os israelitas que cruzaram o Mar Vermelho: “todos foram batizados em Moisés na nuvem e no mar.” Embora este seja um uso figurativo do termo, Paulo usa isto para construir na lembrança deles a prioridade de fé e regeneração interna em cima da questão do batismo (1:14-17). Ele faz uma observação perspicaz dizendo que todos os israelitas que saíram do Egito eram “batizados,” figurativamente, eles não agradaram a Deus: “Mas Deus não se agradou da maior parte deles; pelo que foram prostrados no deserto.” (10:5).

Finalmente, em I Coríntios 12:13 Paulo menciona batismo como um argumento para a unidade Cristã:

“Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito.”

Aqui novamente, não é o rito do batismo que vale, mas a realidade da união com Cristo que batismo o batismo representa (Romanos 6:3-4), forjado não através da água, mas pelo Espírito

O orgulho dos crentes em Corinto quanto ao batismo é uma pista importante para se entender o significado de I Coríntios 15:29. Pois como veremos, o apóstolo associa o batismo pelos mortos a um grupo herético dentro da igreja cujo falso ensinamento recebeu atenção especial no décimo quinto capítulo de I Coríntios.

O contexto imediato. O melhor modo para entender qualquer texto na Bíblia é examinar os versos que o cercam. E quando nós lemos I Coríntios 15:29 em seu contexto, fica nítido que é a ressurreição e não o batismo, o único tema dominante ao longo de todo o capítulo 15.

Nos versos 1-11, Paulo declara que após Cristo ter morrido pelos nossos pecados, foi ressuscitado dentre os mortos, fato este que foi amplamente atestado por quase 500 testemunhas, a maioria de quem ele diz ainda estar viva na época.

Então nos versos 12-49 o apóstolo coloca em ordem uma série de argumentos, raciocinando sobre a importância da doutrina da ressurreição do corpo. Aqui, o leitor precisa se lembrar de que a doutrina judeu-cristã da ressurreição, era considerada, loucura, verdadeira tolice entre os gregos antigos (Corinto era uma cidade grega). A menção que Paulo faz do batismo pelos mortos no verso 29 é apenas uma daquelas série de argumentos introduzidos para servir de apoio na defesa que ele faz da ressurreição.

Então a pergunta agora é: então quem em Corinto praticava o batismo pelos mortos. E o mais importante: essa prática tinha a aprovação do apóstolo?

''Alguns dentre vós'' - a chave para a resposta

A pergunta retórica de Paulo no versículo 12 expressa o raciocínio do capítulo: “Ora, se se prega que Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns entre vós que não há ressurreição de mortos?”

Uma coisa importante que se deve notar é que a série inteira de argumentos nos versos 13-49, especificamente, é apontada para refutar estes falsos mestres dentro da congregação (“alguns dentre vós”) que estão negando a ressurreição abertamente. O esboço seguinte dá uma avaliação da passagem:

1. Se não houver nenhuma ressurreição, Cristo não ressuscitou (v. 13,16);

2. Nosso pregação é vã, nós ainda permanecemos em nossos pecados (v. 14,17);

3. Nós somos considerados como falsas testemunhas (v. 15);

4. Os mortos em Cristo estão perdidos (v. 18);

5. Os cristãos são os mais miseráveis dentre os homens (v. 19);

6. Como a morte veio por um homem (Adão) e seus descendentes, assim também a ressurreição veio por um homem (Cristo) para tudo que pertencem a Ele (v. 20-22);

7. A ordem da ressurreição: primeiro Cristo, as primícias, e depois todos que estão nele na sua vinda(v. 23-28);

8. O ensinamento dos falsos mestres que negam a ressurreição se torna incoerente quando eles se batizam pelos mortos, pois a prática está baseada na esperança da ressurreição (v. 29);

9. Por que sofremos ainda pelo evangelho se não houver nenhuma ressurreição? (v. 30-34);

10. Ressurreição é como uma semente que morre primeiro para então produzir vida (v. 35-38);

11. A natureza do corpo da ressurreição é diferente da do corpo mortal, como a carne de humanos, mamíferos, e peixes são diferentes um do outro (v. 39);

12. O corpo de ressurreição é de maior glória que o corpo carnal, como o sol é de maior glória que a lua (v. 40-41);

13. Mais contrastes entre o corpo da ressurreição e nossos corpos mortais (v. 42-49);

No verso 29 há outra pergunta retórica: ''Doutra maneira, o que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressucitam? Por que se batizam eles, então, pelos mortos?'' Paulo aqui aponta o fato que desde que é o corpo humano que é batizado, esses que executam tal rito por procuração por uma pessoa falecida têm de fazer assim porque eles têm a esperança da ressurreição futura por aquela pessoa. Assim, a função primária do verso é ainda outro argumento em defesa da ressurreição.

Também note que o apóstolo contrasta o grupo herético que praticava isto com ele e a comunidade Cristã de Corinto. Quando se refere aos crentes da comunidade ele sempre usa os pronomes “vós” ou “nós” incluindo a si próprio.

Quem São ''eles''?

Se nós perguntamos quem são aqueles “eles” de que fala o verso 29, o contexto aponta claramente para atrás ao verso 12. São esses dentro da congregação que está negando a ressurreição, e para quem a passagem inteira aponta como refutação. Então o argumento de Paulo fica claro: Estes falsos mestres são contraditórios, pois ao passo que negam a ressurreição, ainda se ocupam com um ritual que está baseado na esperança da ressurreição.

Ironicamente, a Enciclopédia de Mormonismo adere a esta mesma interpretação do verso:

“(...)Paulo recorre claramente a um grupo distinto dentro da Igreja, um grupo que ele acusa de inconsistência entre ritual e doutrina.”

Assim, longe de endossar o batismo pelos mortos, Paulo na verdade associa isto com um grupo a quem ele já identificou como estando em grave heresia.

Mas, então, por que Paulo não refutou essa doutrina? Será que Paulo usou uma pratica a qual não concordava para apoiar algo que ele defendia (a ressurreição)?

Veremos que esta objeção levantada por alguns não tem consistência:

 Em primeiro lugar, Paulo já associou esta pratica com falsos mestres. Sendo assim, parece que não precisou de nenhuma refutação especial.

Segundo, a história mostra que a prática na realidade nunca foi amplamente difundida. Somente algumas seitas isoladas praticaram isto, inclusive a seita dos Marcionitas do segundo século, e a Sociedade de Efrata, um grupo oculto Cristão na Pensilvânia (1700). Na verdade estes dois grupos não têm quase nada em comum e até mesmo menos ainda com o ensino do mormonismo.

Assim a reivindicação de que a doutrina do “batismo pelos mortos” fazia parte do Cristianismo original e que se perdeu com a alegada “grande apostasia” carece de base histórica e bíblica.

Paulo já no inicio da epístola declara que “Cristo me enviou não para batizar mas para pregar o evangelho” (1:16) — é uma lembrança de que o batismo não tem a mesma importância indispensável que a fé em Cristo tem. Este é um golpe direto na doutrina do batismo pelos mortos que aponta o batismo como indispensável para ressurreição e para a vida eterna.

O batismo é necessário para a salvação?

Para que haja o batismo pelos mortos é necessário que seja feito o batismo em água que segundo eles tem poder para perdoar pecados. Porém, observe as palavras do apóstolo Paulo “Cristo me enviou não para batizar, mas para pregar o evangelho” (1 coríntios 1:16). Esta declaração é esmagadora e insinua que o batismo não tem importância igual a fé em Cristo.

O Novo Testamento ensina sim, que batismo é um passo importante de obediência para os cristãos, mas não ensina sua necessidade absoluta para o perdão dos pecados e não garante a vida eterna.

Conflitos com o Livro de Mórmon

Mostramos no começo deste artigo que o Livro de Mórmon está completamente em silencio sobre o batismo pelos mortos. Muito pelo contrário, há evidências substanciais no Livro de Mórmon contra a prática deste ensinamento: (1) ensina que aqueles que  morrem sem ouvir o evangelho (os candidatos primários do batismo pelos mortos) estão vivos em Cristo, então não precisam de batismo, e (2) ensina que o batismo especificamente é um convênio para esta vida mortal, de forma que seria completamente sem sentido batizar pelos mortos.

No primeiro ponto, nota que Moroni 8:22 declara explicitamente que o estado desses que morrem sem um conhecimento do evangelho é como as crianças que morrem na infância:

“Porque eis que todas as criancinhas estão vivas em Cristo, assim como todos os que estão sem a lei, porque o poder da redenção atua sobre todos os que não tem lei; portanto o que não foi condenado , ou seja, o que não está sob condenação, não pode arrepender-se; e para tal o batismo de nada serve”  

Então, do mesmo jeito que o Livro de Mórmon rejeita o batismo infantil, rejeita no mesmo fôlego aqueles que morreram na ignorância.

O próximo verso (23) chama isto de obras mortas:
“Mas é escárnio perante Deus negar as misericórdias de Cristo e o poder do seu Santo Espírito e depositar confiança em obras mortas”

O batismo pelos mortos também está em conflito com o ensino mórmon de que o batismo é um convenio para esta vida mortal (Mosias 18:13)

Conclusão

Vimos  que o batismo pelos mortos é totalmente anti-bíblico, carece de fundamentos. Nós não poderemos nos salvar por nossos próprios méritos ou de algum ritual. O batismo não salva, nem a santa ceia, nem minha carteira de membro. Somente a fé em Jesus Cristo é que faz isto.

Um comentário:

  1. Eu prefiro não me pronunciar quando o assunto é religião. Como dizem, e concordo: Discutir tal assunto é perder tempo e a paciência.

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