sábado, 2 de julho de 2011

Submetendo o Novo Testamento ao teste bibliográfico

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Em Introduction to Research in English Literary History [Introdução à Pesquisa em História Literária Inglesa], o historiador militar dr. C. Sanders oferece critérios para estabelecer a confiabilidade e a exatidão de qualquer peça de literatura da antiguidade. Dentre eles está o teste bibliográfico, o qual submeteremos o Novo Testamento neste artigo.

O teste bibliográfico é o seguinte: Uma vez que não temos os documentos originais ( chamados autógrafos), qual o grau de confiabilidade e precisão das cópias que temos em relação ao número de manuscritos (manuscritos são cópias feitas à mão do autógrafo), e qual o intervalo de tempo entre o original e as cópias existentes?

Novamente, há duas perguntas básicas: 1) Não havendo os documentos originais, qual o grau de confiabilidade das cópias existentes em relação ao número de manuscritos? e 2) Qual é o intervalo de tempo entre o documento original e as cópias existentes? Em resposta a essas perguntas, pode-se entender que há evidências de manuscritos mais precisos e em quantidade muito maior para o NT que para qualquer outro livro do mundo antigo. Além disso, há mais manuscritos copiados com maior exatidão e datação mais antiga do que para qualquer clássico secular da antiguidade.

Em History and Christianity [História e Cristianismo], John Warawick Montgomery apresenta uma evidência forte ao Jesus histórico [ver meu artigo sobre a historicidade de Jesus]. No começo do livro, Montgomery cita uma palestra do professor Avrum Stroll, na Universidade da Columbia Britânica, intitulada ''Jesus existiu de fato?''. A posição do professor Stroll é resumida na sentença final de sua preleção:

''Um acréscimo de lendas que surgiram a respeito desse personagem [Jesus] foi incorporado nos evangelhos por vários devotos do movimento e rapidamente se espalhou pelo mundo mediterrâneo por meio do ministério de S. Paulo. Por causa disso é impossível separar esses elementos lendários nas descrições pretensas de Jesus daquelas que de fato eram verdadeiras a respeito dele''

Em resposta à essa hipótese, e outras de natureza semelhante, é preciso apenas assinalar alguns fatos referentes às evidências dos manuscritos. Um deles está na Biblioteca John Rylands, em Manchester, Inglaterra e é conhecido por Fragmento John Rylands. Esse papiro contém cinco versículos do evangelho de João (18:31-33,37,38). Foi encontrado no Egito e foi datado entre 117 d.C. e 138 d.C. O grande filólogo Adolf Deissman argumentou que podia ser ainda mais antigo [1].

Essa descoberta destruiu a idéia dos críticos da Bíblia de que o NT foi escrito durante o segundo século a fim de providenciar tempo para que surgissem mitos em torno da verdade.

A tabela a seguir (extraída do livro Fundamentos Inabaláveis, de Norman Geisler) é uma pequena amostra da grande quantidade de evidências manuscritas disponíveis, que fazem os documentos do NT passarem no teste bibliográfico com notas muito boas. A tabela apresenta manuscritos do NT, datas, conteúdo e localização de alguns dos mais importantes manuscritos.



Uma vez mais, isso é apenas uma pequena amostra das evidências empíricas que dão sustentação à confiabilidade dos documentos do NT. A soma total só de manuscritos gregos é agora 5.686. Além desses, há mais de 10 mil manuscritos em latim. 4.100 em língua eslava; 2.500 em armênio; mais de 2.000 em etíope etc. Isso soma 24.286, além de centenas de outras línguas [2].

O único texto antigo que sequer pode comparar-se às evidências de manuscritos do NT (5.686) é a Ilíada, de Homero, com apenas 643 exemplares. E além disso, o intervalo de tempo entre o original e as cópias existentes é muito significativo, porque quanto maior é o espaço de tempo, menos dados há para os estudiosos trabalharem com a reconstrução do original.

O espaço médio de tempo entre o original e a cópia mais antiga dos outros grandes textos da antiguidade é superior a mil anos. Entretanto, o NT tem um fragmento dentro de uma geração (fragmento John Rylands) de sua redação original. Livros inteiros aparecem dentro de cem anos de distância do original, a maioria do NT dentro de duzentos anos, e todo o NT cerca de 250 anos da data do seu término.

Além do mais, o grau de precisão é maior para o NT que para outros documentos comparáveis - aproximadamente 99 por cento copiados com precisão. O fato é que ''a maioria não sobrevive com manuscritos suficientes para permitir comparação. Algumas cópias mil anos mais antigas que o fato não fornecem elos suficientes na cadeia perdida nem correções de variantes suficientes no manuscrito para capacitar os estudiosos do texto a reconstruir o original'' [3]. Ao contrário, qual a importância das leituras variantes do NT?

Os especialistas em manuscritos Westcott e Hort estimaram que apenas cerca de um oitavo das variantes tem algum peso, uma vez que a maior parte delas são simplesmente assuntos mecânicos como ortografia e estilo. Do todo, somente cerca de um sexto está acima de ''trivialidades'', ou pode de alguma forma ser chamado de ''variação substancial''. [4] Matematicamente, isso significa um texto 98,33% puro.

A.T. Robertson deu a entender que a preocupação real da crítica textual é de ''milésima parte do todo'' [5]. Isso tornaria o texto do NT 99,9% reconstruído, livre de qualquer erro substancial ou de consequência. Por isso, B.B. Warfield observou que ''a grande massa do Novo Testamento, em outras palavras, nos foi transmitida sem nenhuma variação, praticamente sem nenhuma'' [6].

À primeira vista, a grande multidão de variantes parece uma deficiência com relação à integridade do texto bíblico. Mas exatamente o contrário é verdadeiro, pois o número maior de variantes supre ao mesmo tempo os meios de verificar as variantes. Por mais estranho que pareça, a corrupção do texto fornece os meios de sua própria correção!

Uma comparação honesta de três observações: 1) o número de manuscritos; 2) o espaço de tempo entre o original e a cópia mais antiga; e 3) a exatidão do NT, todas dão testemunho de que o NT é o documento históricamente mais exato de todos da antiguidade.

Se diante disso não se pode confiar no NT, então se deve rejeitar toda a história antiga que repousa sobre evidências muito mais fracas. Tão claras são as evidências para o NT que ninguém menos que o falecido erudito em manuscritos Sir Frederic Kenyon pôde escrever:

''Portanto, o intervalo entre as datas da composição original e as evidências ainda existentes mais antigas se torna tão pequeno que na verdade é desprezível, e o último fundamento para qualquer dúvida de que as Escrituras chegaram a nós substancialmente como foram escritas agora foi removido. Tanto a autenticidade como a integridade geral dos livros do Novo Testamento podem ser consideradas finalmente estabelecidas'' [7]

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Referências

[1] Norman Geisler & William Nix, A General Introduction to the Bible, p. 268
[2] Idem, p. 30-54
[3] Norman GEISLER, Christian pologetics, p. 308
[4] WESTCOTT & HORT, The New Testament in the Original Greek, Vol II, p. 22
[5] A.T.ROBERTSON, An Introduction to the Textual Criticism of the New Testament, p. 22
[6] Idem, p. 154
[7] Norman Geisler & William Nix, A General Introduction to the Bible, p. 285

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